Joana Sarrazy é filha da carismática Maria José Macedo, pioneira da agricultura biológica em Portugal e fundadora da Quinta do Poial, em Azeitão. Com a morte da mãe, em 2016, Joana viu-se, de um dia para o outro, com uma quinta cheia de vida em mãos. Decidiu mudar radicalmente de vida e dedicar-se à agricultura biológica.
Nasceu em Paris há 36 anos e passou os primeiros anos entre a capital francesa e Portugal. As artes sempre a rondaram. Começou por estudar Dança no Conservatório Nacional, estudou Design no IADE e formou-se como atriz na Acting Internacional em Paris. Além da representação, Joana começou também a dar voz a canais de televisão internacionais e anúncios comerciais, trabalho que mantém ainda hoje. A representação ficou para segundo plano, pelo menos por agora, porque o seu palco é uma quinta enorme que exige uma permanente presença. Uma pequena equipa de meia dúzia de colaboradores trabalham diariamente a terra para garantirem a qualidade e frescura a que a Quinta do Poial nos habituou.
Foi a sua mãe que iniciou este projecto, ainda nos anos 80. Maria José Macedo regressou de França em 1987, onde era gestora de orçamento do Parc La Villette, e começou por produzir orquídeas na Arrábida. Este negócio não funcionou. Foi então que se apercebeu que não havia ervas aromáticas frescas em Portugal, como o tomilho, o manjericão, o cebolinho, ou a salva. Começou então a plantar em modo biológico e a procurar clientes. Foi ao Ritz propor ao chef Helmunt Zibell, que se tornou no cliente número um, que até então mandava vir as ervas aromáticas secas de França e da Holanda.
Nos primeiros tempos da quinta, Joana estava a viver em Paris e trabalhava em restaurantes com menus de degustação. Muitas vezes ligava à mãe a dizer-lhe o que os chefs estavam a usar para que ela experimentasse plantar. Aconteceu, por exemplo, com a ice plant, uma planta com fruto comestível. Uma das imagens de marca da quinta são os minilegumes, que o Poial foi pioneiro a produzir em Portugal, e que ali se apanham um a um. Também se cultivam legumes com história que caíram em desuso, como a cenoura pau-roxo, uma cenoura de Inverno amarela por dentro e roxa por fora, e um dos maiores passatempos de Joana é consultar os catálogos de sementes, que são infindáveis. “Eu compro sementes como as mulheres compram sapatos”, costuma dizer.
Dona de uma energia e uma paixão contagiantes, Joana tem mantido uma atitude de constante inovação e pesquisa para garantir uma alargada oferta de produtos biológicos. Sempre com a sustentabilidade como pilar, por isso se recusa a usar qualquer produto químico nas suas culturas. Isto torna maior o desafio. Apesar do constante estudo sobre rotatividade de culturas, associação de espécies não há como evitar as imprevisões da natureza. E é cada vez mais comum as culturas sazonais ressentirem-se com as alterações climáticas, e de um dia para o outro toda uma cultura pode desaparecer. O que para muitos seria motivo de desanimo, é para Joana um sinal de que só há um caminho a seguir, o da sustentabilidade. Este respeito pela natureza juntamente com a enorme paixão pela terra fazem com a gestão de Joana projecte a quinta para o futuro, que passar por acrescentar as árvores de fruto às inúmeras espécies que planta.
Muita da produção diária vai diretamente da quinta para a cozinha de conceituados restaurantes em Portugal, mas os excedentes podem ser compradas por particulares, directamente na Quinta do Poial ou na feira de produtos biológicos, aos sábados, no Príncipe Real. Para os amantes da natureza, é sempre possível visitar a Quinta do Poial e se se cruzar com Joana Sarrazy é certo e sabido que ao longo do passeio vai passar o tempo todo a arrancar legumes da terra e a comer diretamente ou a provar folhas e flores que nunca ouviu falar, mas que seguramente jamais vai esquecer.